A desconhecida história da preocupação com a sexualidade masculina no início do século XX, onde meninos dormiam na mesma cama. A impensável proposta de um quarto de prisão para corrigir menores carentes para que não seguissem a disciplina rígida da escola. O complexo que trocou o cuidado religioso para a tutela jurídica do menores na história de uma das primeiras instituições de ensino técnico de Belém. Quando passar pelo Tribunal de Justiça, na Almirante Barroso, identifique esta história.
A Casa de Educandos surgiu logo depois da Camanagem para meninos pobres aprenderem a ler e escrever, além de formação moral e religiosa. De sua alfaiataria saiam as fardas para polícia e exército. Desaparece 12 anos depois. Em 1872, surge o Instituto de Educandos Artífices com ensino primário a partir dos 7 anos e educação profissional. Era exclusivo a alunos que vivessem na Provincia e tinha uma rígida disciplina.
Os educandos acordavam às 5 da manhã, passam em revista e iam para a oração na capela. De manhã, aprendiam letras. A tarde, oficinas profissionalizantes e música. A preocupação com a disciplina era tão prioritária que em 1874, o presidente da Provincia, Pedro Azevedo, pedia um quarto de prisão correcional para os alunos que não seguissem as regras.
Com permanente superlotação e dificuldades de atingir a meta de alunos, foi preciso a construção de um novo prédio na Estrada de Bragança, atual Almirante Barroso. Iniciado em 1894, só seria concluído 6 anos depois pelo governador Paes de Carvalho, já como Instituo Lauro Sodré - Colônia Orfanológica, Artística, Industrial e Agrícola, que incluía ano curriculum fotografia, telegrafia, gravura, tipografia e cartonagem. Na área agrícola, agricultura , pecuária e zootecnia. Foi a primeira grande escola técnica industrial e agrícola do Pará.
Era a tradução das ideias republicanas do progresso da nação, traduzidas na mudança do comportamento da educação no novo Brasil. Passa a prioridade religiosa para a prioridade da esfera jurídica de proteção com capacidade para ate 300 educandos, separados por faixa etária.
Mas o processo não era simples. Precisava-se cada vez de mais lugares para atender meninos de rua surgidos com o crescimento e a atração da riqueza da borracha na virada do século. Mais que isso. Como não havia camas para todos, muitos eram obrigados a dividir a mesma cama, o que segundo relatórios da época geravam preocupações com a sexualidade dos meninos.
Nos fundos do prédio, oficinas em 4 galpões de madeira, além de estabulo, lavanderia, chalés para diretores, horta e pomar. O instituto oferecia premio em dinheiro para maior produção na oficinas, que incluíam a de alfaiate, sapateiro, carpinteiro, marceneiro , torneiro, tipografo,
Na metade do século XX vira o Colégio Lauro Sodré, até a transferência do judiciário paraense já no século XXI. Restaram fotografias de um período importante e pouco lembrado da educação profissional paraense.
Fontes: Monografia Lauro Sodre, 1904/ Traços de compaixão e misericórdia na história do Pará: instituições para meninos e meninas desvalidas no século XIX até início do século XX, Celita Maria Paes de Sousa, 2010, Unicamp / http://migre.me/hiE8l
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