A desconhecida história do primeiro cineasta a gravar filmes em Belém e que chocou a cidade ao apresentar para platéias de quase 1000 espectadores, filmes pornográficos. No primeiro dia, 900 espectadores foram a um cinema na Praça Justo Chermont. Quase conseguiu transformar Belém em um polo desse cinema de pouca moral, mas o negócio naufragou porque sobravam mulheres para os papeis, mas faltavam homens dispostos a contracenar. Com vocês Ramon de Baños...
Ramon de Baños nasceu em Barcelona na Espanha em 1890. Viveu por aqui entre 1911 e 1913, onde produziu no curto período, inacreditáveis 30 filmes documentários. Boa parte deles para a produtora The Pará Films, que pertencia a Joaquim Llopis, outro espanhol que trabalhava como chefe de compras em Belém da firma Suárez Hnos. Ltda., que pertencia ao barão da borracha boliviano Nicolás Suárez.
Comprou cópias de filmes de produtoras européias, filmes virgens e equipamentos da inglesa The Prestwich Manufacturing Cº, e equipamento completo de filmagem à firma Prevots de Paris. As primeiras imagens foram feitas na viagem até Belém, no vapor Rio Negro, que resultaram no documentário Viagem de Lisboa ao Pará, que na terceira parte, mostravam o interior de um bonde que recorreu algumas das principais avenidas e ruas de Belém3.
Em 10 de novembro de 1911, a cidade parou para ver no Teatro Odeon, no quintal da casa de Llopis, os primeiros documentários em Belém: um deles retratava o “Cyrio”.
Em 10 de novembro de 1911, a cidade parou para ver no Teatro Odeon, no quintal da casa de Llopis, os primeiros documentários em Belém: um deles retratava o “Cyrio”.
A curiosidade era grande dos belemenses em ver as suas próprias imagens, reproduzidas, pela primeira vez, na tela de um cinema. “Foi tanta a gente que queria ver as nossas empolgantes fitas que a policia teve que intervir diversas vezes para conter alguns espectadores (...) que não conseguiam conter a sua impaciência” contou o cineasta em uma autobiografia.
A “The Pará Films” foi a primeira produtora de filmes e documentários de Belém. Atrás de mais lucros, que Joaquim Llopis, comprou na Europa mais de 20 películas erótico-pornográficos que chegaram a Belém escondidas em caixa de filmes cujos títulos não tinham nada que ver com o seu real conteúdo.
Também mandou trazer uma dúzia desses filmes eróticos, também classificados como verdes ou picantes, da Argentina e comprou outras tantas películas no Brasil.
Também mandou trazer uma dúzia desses filmes eróticos, também classificados como verdes ou picantes, da Argentina e comprou outras tantas películas no Brasil.
Em dezembro Llopis conseguiu autorização das autoridades para a projeção das películas eróticas, para “Homens Adultos”. Na noite de estréia, convites dobrados e que pediam sigilo levaram quase 1000 espectadores ao Teatro Odeon como dizia o texto nele gravado.
“Reservado: Queira ler e guardar sigilo, e nas páginas interiores:
Theatro Odeon (Praça Justo Chermont). Instituto de Artes Novas. Sessões livres só para homens maiores de 20 annos. Espectaculos sicalyticos. Dão vigor as fracos. Deleitam os solteiros. Educam os tímidos. Extasiam os casados. Neurasthenisam os viúvos. Viva o amor! ... a ... a... A ultima palavra em cinematografia (...). Todas as Quintas-feiras, Sabbados e Domingos! AVISO: É expressamente proibida a entrada a mulheres i menores (BAÑOS, 1991, p. 85)”
Em uma carta a namorada, Baños contava que precisava pedir que os espectadores se contessem na euforia para não incomodar a vizinhança. Na mesma carta Baños fazia questão de destacar que em nenhuma outra parte do mundo há tanta liberdade como nesse país: “Mira tu que dar sesiones inmorales con teatro abierto al público y billetería a la puerta, como si fuese un espectáculo honesto, es el colmo!”
“Reservado: Queira ler e guardar sigilo, e nas páginas interiores:
Theatro Odeon (Praça Justo Chermont). Instituto de Artes Novas. Sessões livres só para homens maiores de 20 annos. Espectaculos sicalyticos. Dão vigor as fracos. Deleitam os solteiros. Educam os tímidos. Extasiam os casados. Neurasthenisam os viúvos. Viva o amor! ... a ... a... A ultima palavra em cinematografia (...). Todas as Quintas-feiras, Sabbados e Domingos! AVISO: É expressamente proibida a entrada a mulheres i menores (BAÑOS, 1991, p. 85)”
Em uma carta a namorada, Baños contava que precisava pedir que os espectadores se contessem na euforia para não incomodar a vizinhança. Na mesma carta Baños fazia questão de destacar que em nenhuma outra parte do mundo há tanta liberdade como nesse país: “Mira tu que dar sesiones inmorales con teatro abierto al público y billetería a la puerta, como si fuese un espectáculo honesto, es el colmo!”
Tal liberdade durou até a campanha que a Próvíncia do Pará fez contra os filmes “imorais” exibidos no Odeon solicitando a intervenção da polícia. Indicava que a polícia, entretanto, interesses “econômicos” no negócio. Entenda isso como quiser. Baños era amigo do Chefe de Polícia. Mas cerca de um mês depois, recebeu a notícia que os filmes seriam confiscados. Escondeu tudo em um restaurante da sua confiança.
A “ The Pará Films também tentou produzir películas erótico-pornográficas em Belém. Com essa finalidade, Baños e alguns dos seus amigos, foram em busca de mulheres que se prestaram a servir de artistas nessas fitas de caráter pornográfico, mas tiveram que desistir do projeto, segundo Baños “por falta de artistas masculinos que se presten a ello” (Carta a Rosita, 06/02/1912, pasta 4.1.2_030).
Assim encerrava a passagem de um dos pioneiros do cinema mundial por Belém. O primeiro a gravar na cidade, o primeiro a ofender a moral na tela grande. Um gigante desconhecido que morreu em 1980. Para entender mais leia
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Fontes : Ramon de Baños, um pioneiro do cinema catalão em Belém do Pará nos tempos da borracha (1911-1913) - Pere Petit; BAÑOS, Ramon. Un Pioner del Cinema Català a l’Amazònia. Barcelona: Íxia Llibres,1991. - _____. Notas íntimas de un “cameraman español” [manuscrito original da sua autobiografia]. Barcelona: 1970 (disponível na Filmoteca de Catalunya).
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